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Carros antigos eram mais seguros em colisões? O que diz a ciência?

  • Foto do escritor: Patrick Vizzotto
    Patrick Vizzotto
  • 30 de jun.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 23 de set.

Mais aço nem sempre significa mais segurança: entenda por que os veículos modernos salvam mais vidas.


Carro amassado após acidente de trânsito

Quem nunca ouviu a frase: “Carro bom era o de antigamente, feito de ferro de verdade”? Essa ideia ainda ronda rodas de conversa, postos de gasolina e grupos de entusiastas nostálgicos. A imagem de um sedã dos anos 70 “indestrutível” inspira confiança à primeira vista. Mas será que essa carcaça de aço realmente oferecia mais proteção? Física mostra que a resposta é bem diferente do que muitos imaginam.

 

De onde vem esse mito?

A crença de que veículos antigos eram mais seguros vem de uma percepção visual: em uma colisão, eles aparentam sofrer menos deformação que os modernos. Além disso, seu peso e rigidez passam uma sensação de robustez que os veículos contemporâneos, com formas arredondadas e uso visível de plásticos e fibras, não transmitem. Mas aparência não é segurança.

Outro ponto é o impacto emocional: as pessoas lembram de carros antigos que sobreviveram a batidas — ou ao menos “pareciam inteiros” —, mas não consideram os danos internos sofridos pelos ocupantes. A física e a engenharia nos mostram que o que importa não é a estrutura resistir, e sim como ela absorve energia do impacto e protege os passageiros.

 

Física da colisão: por que deformar é proteger

Para entender a diferença entre carros antigos e modernos, é essencial compreender como funciona a dissipação de energia em um impacto. Conforme a segunda lei de Newton, a força exercida em uma colisão depende da variação da quantidade de movimento (massa x velocidade) dividida pelo tempo de colisão:


F=Δp/Δt


Ou seja, quanto maior for o tempo de desaceleração, menor a força transmitida ao corpo do ocupante. É por isso que carros modernos são projetados para deformar — intencionalmente! A zona de deformação (ou crumple zone) absorve a energia do impacto, aumentando o tempo do choque e reduzindo a força aplicada aos passageiros. Já os automóveis antigos, por não deformarem tanto, transmitem mais energia diretamente ao corpo humano.

 

A estrutura importa — mas os ocupantes importam mais

Automóveis antigos tinham carrocerias monobloco ou chassi com estrutura rígida, sem zonas de deformação planejadas. Isso fazia com que, em um impacto, a energia fosse transferida de forma brusca e direta para os passageiros, resultando em fraturas, traumatismos e óbitos — mesmo em colisões moderadas.


Já os veículos modernos são projetados com zonas específicas para deformação, cabines reforçadas (células de sobrevivência) e uma série de tecnologias como airbags, cintos com pré-tensionadores e sistemas de freios mais eficientes. Tudo isso colabora para manter os ocupantes vivos — mesmo que o carro “pareça destruído”.

 

Crash test: a verdade em câmera lenta

Nada melhor do que a realidade dos testes de colisão para comparar ambos os mundos. Em 2009, a IIHS (Insurance Institute for Highway Safety) realizou um crash test histórico: uma colisão frontal entre um Chevrolet Bel Air 1959 e um Chevrolet Malibu 2009, ambos a 64 km/h.


O resultado? Emocional: Pena em ver um lindo Chevrolet Bel Air 1959 colidindo e sendo destruído em nome da ciência (rsrs). Técnico? O veículo antigo ficou com a parte dianteira relativamente intacta, mas o compartimento dos passageiros foi esmagado. No carro moderno, a frente se desintegrou — como planejado —, mas o habitáculo permaneceu firme, com baixa penetração no espaço do motorista.


A conclusão foi categórica: o risco de lesões fatais no carro antigo era muito maior. A rigidez estrutural, neste caso, não protegeu — matou.

 

O papel da tecnologia embarcada na segurança

Hoje, além da engenharia estrutural, temos um arsenal de tecnologias que evitam ou reduzem os impactos de acidentes:


  • Controle eletrônico de estabilidade (ESC)

  • Sistema de frenagem autônoma de emergência (AEB)

  • Assistentes de faixa

  • Airbags frontais, laterais e de cortina

  • Sensores de ponto cego e alerta de colisão


Veículos antigos não contavam com nenhum desses recursos. A segurança era puramente mecânica, e dependia da sorte, do cinto (quando existia) e da velocidade no momento do impacto.

 

“Mas meu tio capotou com um Opala e saiu andando…”

É comum ouvirmos histórias como essa, mas lembre-se: casos individuais não provam uma regra, isso é um problema de viés de amostragem. Para uma pessoa que capotou e saiu vivo, quantas capotaram e acabaram falecendo?


Além disso, a ausência de sistemas de registro de dados de acidentes no passado torna impossível comparar estatísticas com precisão. Hoje, temos bancos de dados robustos, simuladores computacionais, crash dummies (bonecos de teste) com sensores, e milhares de simulações que ajudam engenheiros a prever como o corpo humano se comporta em uma colisão.

 

Mas e o custo dos reparos nos carros modernos?

Sim, veículos atuais têm componentes mais caros e sensíveis. Um simples para-choque danificado pode ter sensores e câmeras integradas. Mas esse custo é um preço baixo diante da vida humana. Os engenheiros projetam os veículos modernos com a ideia de que é melhor perder peças do carro do que perder a vida do condutor ou passageiro.

Além disso, o aumento da segurança ajudou a reduzir drasticamente o número de mortes em acidentes, mesmo com o crescimento da frota. Isso é um indicativo de que os investimentos em tecnologia e engenharia valem a pena.

 

Conclusão

Os automóveis antigos marcaram época com seu design imponente, motores potentes e um certo romantismo associado à liberdade de dirigir. Mas, quando o assunto é segurança, a comparação com os modelos modernos não deixa dúvidas. Os avanços científicos e tecnológicos transformaram como os veículos são projetados, colocando a proteção dos ocupantes — e dos demais usuários da via — no centro das prioridades da indústria automotiva.


Hoje, dirigir é significativamente mais seguro graças a décadas de pesquisa em dinâmica veicular, materiais, simulações de impacto e desenvolvimento de sistemas inteligentes, como airbags, freios ABS e controle de estabilidade. Não se trata somente de preservar máquinas, mas de preservar vidas.



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© 2025 por Patrick Vizzotto

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